Compartilhe nas redes sociais:

Não é novidade que a pandemia causada pelo Covid-19 alterou de alguma forma a rotina de trabalho de todos nós. Alterações no regime de trabalho, reuniões virtuais, revezamento nas empresas, o espaço da casa sendo adaptado para comportar também as atividades laborais, e muitas outras mudanças estão acontecendo durante esse período, de desafios inéditos tanto para trabalhadores e colaboradores, quanto para as empresas.
Para nos ajudar a compreender esse momento, a psicóloga organizacional e especialista em gestão de pessoas, Tatiana Picanço, responde a algumas perguntas referentes a essa nova rotina e fornece dicas para enfrentar este momento tão desafiador para todos nós. Há mais de 10 anos, Tatiana atua na gestão de pessoas nos setores público e privado, e faz parte do time de consultores da Selos.

1) Qual foi a principal diferença nas relações trabalhistas que você pôde observar desde o início da pandemia?
Mudanças legais foram estabelecidas para o enfrentamento da atual crise decorrente do Pandemia do Coronavírus. Muitas dessas mudanças já faziam parte da nova reforma trabalhista, mas não eram usuais. A pandemia acabou acelerando a adoção de tais medidas. Dentre elas:
· Alteração do regime de trabalho presencial para trabalho remoto sem registro prévio e negociação;
· Antecipação de férias, feriados e férias coletivas
· Flexibilização da jornada de trabalho
· Modalidade de contratação intermitente.
É possível perceber que tais mudanças poderão permanecer após a pandemia pois serão uma tendência nas relações contratuais diante dos impactos econômicos.

2) O fato de o home office ter sido adotado por milhares de trabalhadores, do dia para a noite, trouxe uma sensação de falta de pertencimento às empresas e corporações? Como você acha que é possível driblar esse sentimento?
A ausência do convívio diário, do planejamento a longo prazo e de políticas para promoção do bem-estar do trabalhador impactaram fortemente na sensação de falta de pertencimento organizacional. Porém, estudos realizados por instituições renomadas como a Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostram que o home office ajuda na economia de tempo – tanto de deslocamento quanto para reuniões – e no aumento da produtividade dos funcionários, portanto é possível que esse modelo ganhe força e se torne nova tendência dentro das organizações. Apesar dessas vantagens, precisamos considerar prejuízos na integração do grupo e sensação de pertencimento à empresa. Para driblarmos esse sentimento alguns pontos podem ser levados em consideração:
· Manter diálogo aberto com os funcionários por meio da valorização da comunicação interna;
· Manter a clareza em relação à situação do mercado e da empresa sendo transparente nas ações;
· Definir objetivos a serem alcançados, valorização das metas batidas e celebração das conquistas individuais e dos grupos;
· Estabelecer prioridades, evitar reuniões em excesso e respeitar os horários de trabalho e, se necessário, disponibilizar serviços de atendimento psicológico pois o isolamento social imposto pela pandemia pode aumentar ansiedade, insônia e até ataques de pânico.

3) Quais são as principais dificuldades dos trabalhadores nesse contexto de pandemia? E dos empresários?
Com a pandemia do Coronavírus todos tiveram que se adaptar a uma nova realidade. Pensando nos trabalhadores, é desafiador fazer trabalho remoto, ser produtivo, dar atenção aos filhos, garantir que estejam estudando e assegurar a ordem da casa. Ninguém estava preparado para esse momento e as pessoas acabaram ficando confusas em como lidar com tantas informações. Além dessas questões, é importante lembrar das pessoas que possuem empregos informais, infelizmente, esses são os mais vulneráveis à crise da pandemia e respondem por 40% do mercado.
Falando sobre os empresários, com o fechamento de indústrias, comércios e serviços como medida preventiva de combate ao Coronavírus, esses estão preocupados, sem saber que atitude tomar para garantir a sobrevivência dos negócios. Todos devem sofrer com baixa do faturamento, queda nas vendas. Uma boa alternativa para esses problemas são as linhas de crédito oferecidas pelo Governo Federal, mas na prática infelizmente presenciamos reclamações das condições e dificuldades dos empresários para conseguirem empréstimos.

4) Quais são as orientações que você indica para que as pessoas possam continuar produzindo de forma saudável e com qualidade de casa?
Manter a produtividade passa por muitos fatores, como ter uma estação de trabalho apropriada em casa. O desafio reside em conseguir responder à pergunta de como trabalhar com qualidade de casa e produzir de forma saudável. Algumas dicas:
· Ter uma estação de trabalho adequada e agradável é o primeiro passo;
· Ter foco no trabalho quando estiver em horário do expediente
· Manter um horário de trabalho é imprescindível para enfrentar o período em casa sem ter problemas
· Estabelecer metas diárias para trabalhar
· Estabelecer rotina saudável: depois das primeiras atividades da manhã, como tomar café da manhã, tomar um banho e tirar o pijama, organize o ambiente de trabalho e, lembre-se de deixar sempre uma caneca de água ao seu lado.

5) O que os gestores podem fornecer, tanto de forma humana quanto material, para que os processos e projetos de uma empresa sofram menos impacto com a pandemia que estamos vivendo?
O papel da liderança deve ser ressaltado pois é desafiador equilibrar uma situação imprevisível. Diante dessa crise, o líder precisa ter visão de futuro, clareza sobre as prioridades, certeza sobre as ações e resistência para as tomadas de decisão. Alguns fatores são importantes:
· Ser flexível e se adaptar à realidade do trabalho remoto
· Conservar o lado humano e priorizar a segurança
· Incentivar a motivação dos colaboradores
· Dar prioridade à intensificação da comunicação

Tatiana Picanço é psicóloga Organizacional, especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade de Brasília. Consultora pela Selos Consultoria, atuando como especialista em Gestão de Pessoas. Profissional com mais de 10 anos de experiência em gestão de empresas do setor público e privado. Possui amplo conhecimento em subsistemas de RH Estratégico, atuando como Business Partner em diversas regiões do país.