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O quarto episódio da série: “O dia a dia do Compliance Officer” aborda a falta de convívio profissional enfrentado pelos trabalhadores em tempos de Pandemia , bem como as tecnologias que, embora já existissem, estão tomando os espaços pessoais e empresariais, como as teleconferências, programas de bate- papo e redes sociais.

O especialista em Compliance Officer da Selos Consultoria, Euni Santos* também explica  as oportunidades que esse momento pode proporcionar para os profissionais de TI, que têm o desafio de proteger as informações compartilhadas pelas corporações e para o Compliance Officer, que agora pode contar com uma participação mais efetiva dos colaboradores, uma vez que essas reuniões, ainda que virtuais, preenchem uma lacuna de envolvimento social e profissional que foi rompida com o isolamento.

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  1. Inseguros em casa

 

Transcorridos menos de trinta dias de afastamento social, profissionais desacostumados ao home office que se viram na inesperada contingência de trabalhar em casa já suspiram por liberdade, enquanto planejam justificativas para dar um pulo até o escritório, na esperança de um mínimo de bate-papo de cafezinho. Tanto a profissional que mora só quanto o programador que compartilha o espaço doméstico com a família reclamam da falta do convívio profissional com os colegas de trabalho. Expandem suas redes de contatos virtuais para conversar e compartilhar seu novo cotidiano, em busca de empatia e de soluções para mitigar suas inseguranças e preocupações quanto ao futuro próximo. Com isso, cresce o uso de programas de bate-papo e de teleconferência, anteriormente evitados ou vistos com desconfiança pelas corporações.

 

Ao mesmo tempo, os treinamentos dos Programas de Compliance, agora realizados por meio de videoconferência, acabaram por expandir seu papel para além da sua vocação natural de disseminação da cultura corporativa de integridade, e encamparam a função adicional de manutenção da coesão da equipe, substituindo os já distantes abraços e apertos de mão pelas saudações virtuais e pelo telecompartilhamento das venturas e desventuras desse novo mundo do trabalho a distância. Ante o isolamento e a insegurança quanto à continuidade dos negócios, um workshop virtual para apresentação e discussão de uma política interna passou a significar, para essas pessoas, mais que um momento de trabalho em conjunto: é uma oportunidade de reencontro e uma confirmação de pertencimento.

 

Para os Compliance Officers, esta é uma oportunidade incomum para incremento da participação efetiva dos colaboradores no âmbito dos Programas de Compliance. Antes frequentemente vistos como uma obrigação que interrompia o trabalho, os treinamentos agora reforçam a sensação do vínculo corporativo, elevando o potencial de contribuição coletiva na implementação das políticas internas. Essa nova valorização do espírito de grupo pode e deve ser aproveitada pelos gestores de compliance para incrementar também os níveis de efetividade da cultura corporativa de integridade.

 

O teletrabalho em condições de confinamento põe em evidência a necessidade de observância das regras relacionadas à segurança da informação. O trabalho remoto e em casa apresenta vários desafios de proteção de dados que os profissionais de compliance precisam reconhecer e tentar mitigar, em especial porque os funcionários podem estar usando seu próprio equipamento de TI, que pode ser compartilhado com outros membros da família que estão confinados na mesma casa. Isso aumenta a perspectiva de crianças – que geralmente têm mais conhecimento de TI, mas menor consciência de risco do que seus pais – acessarem sites e materiais que não seriam permitidos dentro dos limites do escritório, contornando ou ignorando os protocolos de segurança comuns. Adicionalmente, o equipamento pode não contar com as últimas atualizações de segurança, que normalmente alertam os usuários sobre possíveis malwares ou detectam vírus. Como resultado, os incidentes de ataques cibernéticos e violações de dados podem aumentar, à medida que cresce o número de e-mails suspeitos e golpes de phishing.

 

Nunca é demais alertar para a gravidade dos danos comerciais e reputacionais que podem decorrer do uso inadequado de informações confidenciais. Os Compliance Officers devem reforçar, neste período de confinamento, as políticas internas de proteção de dados, solicitando o apoio das equipes de TI para desenvolvimento e implementação de rotinas, cuidados e soluções capazes de manter a segurança cibernética dos ambientes remotos de trabalho, em um momento em que as necessidades pessoais de comunicação invadem, de uma maneira sem precedentes e ainda não inteiramente compreendida, o ambiente corporativo.

 

Comunicação na Gestão de Crise

*Euni Santos é consultor especializado em licitações e contratações públicas, atuando em companhias globais e grandes grupos empresariais ao longo dos últimos vinte anos. Atualmente exerce a função de Compliance Officer junto a empresas dos setores automobilístico, de serviços jurídicos, de assessoria financeira, segurança e tecnologia da informação. Atua com a Selos Consultoria há alguns anos na implantação de programas de integridade em empresas e entidades de abrangência nacional.