Compartilhe nas redes sociais:

No episódio de hoje, o especialista em Compliance Officer da Selos Consultoria, Euni Santos*, fala sobre políticas de tele trabalho, tão pertinentes aos dias atuais.

Euni também aborda a necessidade das empresas e seus colaboradores manterem uma rotina de reuniões, não apenas com a função de organizar a demanda, mas também como uma forma de driblar o isolamento social e a sensação de não pertencimento a grupos e empresas, que pode estar atribuída a trabalhadores que anteriormente não tinham experiência com o home office.

Leia abaixo o novo episódio da série “O dia a dia do Compliance Officer”.

 

3. Não estamos sós
Um de meus clientes na área de Compliance é um grupo econômico constituído por empresas de diversos portes, com sedes, filiais e representações em seis estados brasileiros. A distribuição dos seus mais de 150 colaboradores em três das cinco regiões geográficas do país inviabiliza a realização presencial dos treinamentos obrigatórios dos programas de Compliance de cada empresa, o que nos levou, desde o primeiro dia, a conduzi-los por meio de videoconferência, no formato de workshops virtuais. Como consequência, quando as empresas adotaram o afastamento social entre suas estratégias de enfrentamento da COVID-19, os recursos de teletrabalho já não eram estranhos aos funcionários e prestadores de serviços do grupo.
Ainda assim, nem todos tinham em casa um local definido para a atividade laboral, com condições adequadas de privacidade, organização, ergonomia ou iluminação; e, uma vez que, até o advento da pandemia, o trabalho em home office não era uma atividade usual, a maioria dessas pessoas estava insuficientemente preparada para as novas condições de trabalho.
Observando esse fato, logo imaginei partilhar minha longa experiência em home office para auxiliar esses colaboradores a lidar com o trabalho em casa e suas intercorrências com o convívio familiar, formatando um processo de criação do mindset e das condições mínimas para manutenção da sua produtividade na nova modalidade de trabalho. De outro lado, o esforço deveria também centrar-se na manutenção da cultura corporativa, no monitoramento do plano de enfrentamento à pandemia e na mitigação dos riscos de dano reputacional, em especial daqueles eventualmente decorrentes das ações que caracterizam o grupo nos campos do empreendedorismo social e da ajuda humanitária, ante a proximidade do período pré-eleitoral.
Não obstante, a centralidade dos aspectos de governança, risco e conformidade não deve subestimar o impacto de outro elemento fortemente presente no teletrabalho: a solidão.
Mesmo no caso de um grupo econômico com uma cultura interna razoavelmente homogênea, os indivíduos e as equipes lidam com o isolamento de formas diferenciadas. Enquanto a equipe de desenvolvimento de software prefere, e até depende, da introspecção e do silêncio para produzir, as equipes de consultoria, escritórios de advogados e trabalhadores industriais ou da área de segurança precisam do convívio com os colegas para alcançar os insights que contribuem para a sua produtividade e para a eficiência da sua área de atuação.
É por isso que, neste período de afastamento social e de home office quase compulsório, as reuniões, mesmo virtuais, possuem o duplo benefício de manter a integração das equipes e afastar o mal-estar causado pela súbita ausência dos agora saudosos cinco dias inteiros de convivência semanal no escritório.
Isto posto, cabe ao Compliance Officer, além de nivelar o conhecimento dos aspectos éticos e de conformidade vinculados às políticas internas de teletrabalho, auxiliar a alta administração, os gestores e o RH a manter o clima organizacional, utilizando ferramentas de comunicação capazes de reunir as pessoas, ainda que virtualmente, em um ambiente de pertencimento e de compartilhamento de informação, desse modo atenuando o peso da súbita restrição da convivência laboral. Essas reuniões devem ter periodicidade definida, a fim de que todos saibam quando irão se encontrar outra vez, mitigando, assim, a ansiedade e a sensação de insegurança trazida por esse período incomum.

Comunicação na Gestão de Crise

*Euni Santos é consultor especializado em licitações e contratações públicas, atuando em companhias globais e grandes grupos empresariais ao longo dos últimos vinte anos. Atualmente exerce a função de Compliance Officer junto a empresas dos setores automobilístico, de serviços jurídicos, de assessoria financeira, segurança e tecnologia da informação. Atua com a Selos Consultoria há alguns anos na implantação de programas de integridade em empresas e entidades de abrangência nacional.